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Um dos 'pais da internet' quer melhorar a gestão de informações digitais

11/10/2017

Depois de ter desenvolvido no início da década de 1970, juntamente com Vinton Cerf, os Protocolos de Controle de Transmissão (TCP, na sigla em inglês) e de Internet (IP, na sigla em inglês) – que são a base da internet hoje –, o engenheiro e cientista da computação norte-americano Robert Khan pretende agora melhorar os níveis de segurança e garantir a integridade dos dados compartilhados na rede mundial de computadores por meio de um sistema de gestão de informações que começou a elaborar nos últimos 20 anos.
 
Denominado “Arquitetura de Objetos Digitais”, a proposta do sistema é realizar uma espécie de cadastro de informações disponíveis em formato digital – chamada de objetos digitais – e conferir a elas um identificador ou “número de série” exclusivo, de modo a assegurar sua localização e controlar o acesso e seu uso ao longo do tempo.
 
Dessa forma, o link para um texto publicado na internet – como este que você está lendo – não seria perdido com eventuais mudanças no endereço (URL) da publicação porque seu identificador estaria associado não a uma porta de um computador ou de um servidor, por exemplo, mas a um objeto digital. Com isso, o sistema seguiria sempre o objeto digital a que o link está vinculado, mesmo que em novo endereço.
 
Idealizado originalmente para gerenciar o acesso a publicações, como livros ou filmes disponíveis na internet, o sistema também pode ser usado para administrar a comunicação na Internet das Coisas (IoT) – rede de objetos físicos, como geladeiras e fogões, veículos e imóveis com tecnologia embarcada, além de sensores e conexão, capazes de coletar e transmitir dados –, indicou Khan.
 
“A Arquitetura de Objetos Digitais é uma extensão lógica da internet para gerenciar informações em formato digital”, disse Khan. “Ela reduz as barreiras para a construção de sistemas de informação, permite que programas interajam diretamente com objetos digitais ou parte deles e permite a interoperabilidade de objetos digitais, incluindo os gerados por diferentes organizações, entre outras vantagens”, apontou.
 
Ele contou que o sistema começou a ser concebido no final da década de 1980, quando ele e Cerf perceberam a necessidade de desenvolver um método para gerenciar informações na internet. A rede mundial de computadores à época tinha sido projetada e implementada como uma plataforma de propósito geral para fornecer conectividade entre computadores, dispositivos e redes de todos os tipos, e um meio pelo qual qualquer aplicativo pode ser disponibilizado tanto publicamente como para uso de usuários autorizados.
 
Essa constatação levou-os a desenvolver a programação knowbot – a programação móvel no ambiente de rede.
 
Em um relatório publicado em março de 1998, eles descrevem os componentes básicos de uma arquitetura aberta para um sistema de biblioteca digital e um plano para o seu desenvolvimento.
 
“Alguns componentes de gerenciamento de informação da programação knowbot – como o componente identificador das informações – foram a base para a Arquitetura de Objetos Digitais, explicou Khan.
 
Desenvolvimento paralelo à Web
 
O desenvolvimento da Arquitetura de Objetos Digitais aconteceu paralelamente à World Wide Web por Tim Berners-Lee, da Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN, na sigla em inglês).
 
Desde então, os dois sistemas têm sido amplamente utilizados. Contudo, a Web obteve uma aceitação mais rápida, embora seja focada principalmente na gestão de informações públicas, apresente segurança limitada e garanta o acesso apenas a curto prazo.
 
Já a Arquitetura de Objetos Digitais foi projetada para habilitar tanto informações públicas como privadas – ou uma combinação das duas – e para ser gerenciada em um ambiente de rede por períodos de tempo potencialmente muito longos, comparou Khan.
 
“Qualquer informação em formato digital pode ser gerenciada de forma segura pela Arquitetura de Objetos Digitais”, afirmou Khan.
 
A fim de garantir a segurança, o sistema é baseado em um regime de criptografia de chave pública (PKI, na sigla em inglês).
 
Por esse sistema, o criador de um objeto digital tem a possibilidade de restringir o acesso a pessoas ou máquinas conhecidas pelo sistema como usuários habilitados por seus respectivos identificadores.
 
Se, por exemplo, os registros médicos de pacientes de um hospital estiverem estruturados como um objeto digital, o acesso a essas informações confidenciais pode ser limitado a usuários autorizados, com base em seus identificadores e sua capacidade de responder com precisão a um desafio proposto pelo PKI.
 
Em alguns casos, o acesso pode significar permissão para obter uma entidade digital na sua totalidade. Em outros casos, o acesso pode significar permissão para executar operações específicas em toda ou parte da entidade digital.
 
“O sistema permite garantir a segurança integrada de um objeto digital por meio de chaves públicas. A Internet das Coisas poderia ser gerenciada por meio de componentes de endereçamento e segurança da Arquitetura de Objetos Digitais, uma vez que os objetos físicos integrados em rede, que caracterizam a IoT, nada mais são que sistemas de informação, explicou Khan.
 
O sistema permitiria não só gerir esses sistemas de informação, como também torná-los interoperáveis, além de habilitar seus modos de operação, prever falhas e permitir que interajam, indicou.
 
Robert Khan esteve no Brasil para participar do 2º Congresso Brasileiro e Latino-Americano de Internet das Coisas.