01/08/2016
Por Francisco Camargo, presidente da ABES
É inegável que a atual recessão pela qual o Brasil está passando afeta todos os setores da economia. Fechamento de empresas, demissão de colaboradores e negociações para a redução da jornada são alguns dos reflexos da situação econômica em que o país se encontra, gerada pela instabilidade política. Diante desse cenário, empresas e investidores estão sendo obrigados a pensar em novas estratégias para tentar driblar os reflexos desse período em seus negócios.
Porém, um exemplo fora da curva é a área da Tecnologia da Informação, que como poucas, tem penetração em todos os setores da economia. Diferentemente da maioria, este mercado alcançou no Brasil um aumento de 9,2% no ano passado, como constatou o Estudo Mercado Brasileiro de Software e Serviços, realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), em parceria com o IDC (International Data Corporation).
Realizada em vários países, esta pesquisa se torna fundamental para se acompanhar a evolução deste mercado no Brasil e no mundo. O comportamento favorável do setor de TI pode se explicar pelo seu impacto estratégico nas organizações, o que fica mais claro justamente, em momentos de crise, apontando métodos e inovações tecnológicas que podem otimizar os processos de trabalho, melhorando a qualidade dos produtos e serviços oferecidos. E isso ocorre em todos os segmentos, seja na área da indústria ou de serviços. Todos os setores estão passando por grandes transformações justamente pelo uso crescente da Tecnologia da Informação.
Desta maneira, percebemos que muitos esforços estão sendo realizados para que esse período de esfriamento da economia seja superado. Em 2015, foi observada uma elevação nos investimentos em TI em regiões que antes eram pouco exploradas, como Norte e Nordeste do país. Isto por conta do investimento das empresas do setor na ampliação de sua cobertura nacional a partir de novos escritórios regionais e parcerias que não se limitam à região Sudeste. Hoje, Norte e Nordeste correspondem a 15% das compras de hardware, software e serviços no país. Mas, ainda assim, o Sudeste continua representando grande parcela desse mercado, com 60,44% da distribuição.
Outro ponto interessante desse estudo é que sem a necessidade de grandes investimentos em infraestrutura, a computação em nuvem permitiu a expansão dos investimentos em TI no ano passado. Para se ter uma ideia da boa aceitação do conceito de nuvem no país, está previsto que esse segmento cresça acima de 20% ao ano até o final da década.
Neste momento delicado da economia, essa é uma tecnologia que apresenta dois ganhos essências para os negócios: redução dos investimentos iniciais e baixo custo operacional, o que permite o aumento de competitividade das empresas.
Essa descentralização dos gastos é um fenômeno positivo que mostra que as outras regiões do país estão se desenvolvendo. Além disso, essa preocupação com os investimentos das empresas está inteiramente ligada ao estreitamento da relação entre TI e as áreas de negócio. A primeira migração do Analógico para o Digital está quase completa também. Hoje, as empresas já estão migrando do Digital para o Tempo Real.
O consumo de novas tecnologias também se destaca nesse período. Apesar das quedas recentes, as vendas de dispositivos tecnológicos permanecerão em alta. Estima-se que no Brasil sejam adquiridos 40 milhões de telefones móveis, 6 milhões de computadores e 5 milhões de tablets, neste ano. O relatório aponta que 54% das médias e grandes empresas no Brasil irão realizar investimentos na chamada Transformação Digital (DX) em 2016.
Apesar de todos os desafios que o Brasil deve enfrentar para se recuperar, ainda assim, terá um setor de TIC com um crescimento comparável aos países que experimentarão as maiores taxas de crescimento nestes investimentos. Um setor forte de TIC será fundamental para trazer ao Brasil as condições necessárias para que se ganhe produtividade, competitividade e eficiência.
*Francisco Camargo é Presidente da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software - e membro da entidade desde 2007. Formado em Engenharia de Produção e Propaganda e Marketing pela Universidade de São Paulo (USP) e com especialização pela Harvard University, Francisco é também Fundador da CLM Software, uma empresa focada nas áreas de Segurança da Informação, Infraestrutura especializada e Analytics.