Quando o assunto é
internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), verifica-se que esta expressão ganhou popularidade mas, ao mesmo tempo, abriu debates sobre como colocar as tecnologias em prática, para que o assunto não seja apenas um onda passageira.
Um estudo produzido pela ABES, em parceria com o IDC (International Data Corporation), estimou que o mercado de Internet das Coisas atingiu US$ 4,1 bilhões só no Brasil em 2016, sendo que US$ 37 milhões correspondem apenas a dispositivos domésticos. Desta forma, existe um cenário favorável de crescimento de IoT no mercado brasileiro.
O Governo Federal, via Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), estima lançar um Plano Nacional de Internet das Coisas no segundo semestre de 2017, para o qual a ABES entregou um documento com várias contribuições (
confira aqui a íntegra do documento). Mas, o que esperar de toda essa movimentação, iniciativas e discussões?
Sobre o assunto, o Portal da ABES entrevistou o empresário Werter Padilha, CEO da Taggen e coordenador do Comitê de IoT da entidade. “Há mais de dois anos venho acompanhando as discussões e a evolução das tecnologias em IoT. É muito importante ver que o MCTIC e o BNDES estão atuando em conjunto e de forma articulada neste processo, mobilizando relevantes especialistas e formadores de opinião”, destacou Padilha. Confira toda a entrevista:
Como está sendo elaborado o Plano Nacional de IoT?
Este plano será resultado de um intenso realizado para o diagnóstico e a elaboração de políticas públicas em Internet das Coisas (IoT). Este estudo envolve um amplo levantamento das ações dos agentes públicos, empresas, associações, dos institutos de pesquisas e das questões legais, realizado de forma coordenada pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), pela consultoria Mckinsey Global Institute e o escritório Pereira Neto Macedo Advogados. O IoT é desafiador, pois é um ambiente de convergência de todas as tecnologias: inteligência artificial, SaaS, computação cognitiva, cloud computing, mobile, big data, segurança da informação, entre outras.
Por que um Plano Nacional de IoT é importante para o Brasil?
Lembro de uma apresentação que assisti faz algum tempo, realizada pelo BNDES, que destacava o enorme déficit da balança comercial brasileira em TIC, ano após ano
(veja anexo). O representante do BNDES já mostrava preocupação com esse déficit, que continuaria a expandir com o processo de transformação digital, caso nada fosse feito. Felizmente, temos, atualmente, uma diretriz muito forte por parte de vários agentes públicos focada na mudança desta postura do Brasil apenas como importador de tecnologias. O Plano Nacional de IoT mostra maturidade, porque todos atuarão melhor se contarem com conhecimento sobre o cenário de IOT nacional e com políticas de investimentos definidas. Assim, o país terá tecnologias e soluções que atendam o mercado interno e também o externo. Vale lembrar que o Brasil possui uma Câmara de IoT, desde 2014, vinculada ao MCTIC, que já estava mobilizada para discutir este tema.
Como o Brasil está situado no cenário global de IoT?
O país já é, por princípio, um grande mercado consumidor de tecnologias e serviços de IoT e será ainda maior, seja pela extensão geográfica, pela população com mais de 200 milhões de habitantes e, principalmente, porque os brasileiros são “early adopters”, gostam de usar novas tecnologias. O Brasil já é um vencedor nesses aspectos, mas não pode ter uma posição passiva, pois podemos ter um grande problema em função do crescimento da importação de tecnologias, tanto hardware ou software, que poderia afetar ainda mais nossa balança comercial e nos colocar como totalmente dependentes de outros países.
O que, em sua opinião, precisa mudar para o sucesso deste plano?
Precisamos de estruturas que proporcionem mais sinergia e aproximação entre os atores do ecossistema de pesquisa, investimentos, políticas públicas, empresas e órgãos públicos. O Plano Nacional de IoT vai mexer com toda a sociedade. O Governo tem que ser um viabilizador, como se fosse uma grande incubadora e aceleradora, sem colocar camisa de força nas iniciativas. Eu estou bastante otimista, sem deixar de ser realista, pois temos engenheiros, profissionais de diferentes áreas e empreendedores competentes. Não dá mais para fazer nada sozinho. É preciso quebrar esse paradigma e promover um trabalho conjunto alinhado com os protocolos e padrões mundiais, seja para atender a demanda interna como para exportação.
O Brasil está atrasado na definição de uma estratégia nacional em IoT?
Posso afirmar que o Brasil não está atrasado. Essa iniciativa brasileira é fantástica. São raros os países no mundo que estão com projetos como o nosso. O Brasil não está atrás, porque toda a mobilização de empresas, universidades e governos em torno da internet das coisas também é muito recente no mundo. Estamos entrando no momento certo e investindo em planejamento, estabelecendo, inclusive, as verticais que deverão ser priorizadas, como agronegócios, saúde e manufatura avançada, entre outras. Apesar da crise, vale lembrar, que a economia brasileira continua entre as 10 maiores do mundo e sendo atrativa para os investidores, pois temos um cobiçado mercado e grande potencial de gerar tecnologias e serviços.
Como está a questão de padronização das normas tecnológicas em IoT?
No que se refere à padronização de normas tecnológicas para a Internet das Coisas, acredito que o Brasil deva participar mais ativamente dos grupos que estão discutindo e definindo a interoperabilidade e compatibilidade entre os dispositivos conectados. Esse é um tipo de atuação que traz benefícios técnicos, políticos e estratégicos, que precisa ser mais incentivada pelo governo para que a evolução continue.
Fale um pouco sobre o Comitê de IoT da ABES.
Este comitê é um microcosmo do que está acontecendo no Brasil em torno deste ecossistema. Os executivos se mostraram muito interessados, pois sabem que a IoT é importante para a sustentabilidade futura dos negócios. Temos várias empresas que já estão, de alguma forma, engajadas neste ecossistema. A ABES também é uma facilitadora, que pode gerar sinergias entre os associados. É fundamental a proatividade por parte do empreendedor para que ele não perca as oportunidades, sempre baseando suas ações em planejamento, capacidade analítica, parcerias e estratégias para agir na complexidade.