18/08/2016
Por Silvio Maemura, diretor geral da Pitney Bowes Brasil
A lavagem de dinheiro é um problema antigo e complexo, mas que ganhou atenção especial do público e das empresas no Brasil em tempos recentes por conta de diversos escândalos em empresas públicas e privadas. Embora exista no país um forte investimento realizado pelas instituições bancárias para prevenir o problema – segundo a FEBRABAN, são investidos até R$ 2 bilhões por ano em sistemas e ferramentas de segurança que visam, entre outras coisas, dificultar o processo de lavagem de dinheiro – ainda assim a ONU estima que cerca de R$ 200 bilhões sejam desviados anualmente no país por meio de diversas técnicas diferentes de lavagem de dinheiro.
“Lavar” dinheiro significa esconder a origem ilícita de uma fonte de renda. De modo geral, isso é feito por meio de contas e empresas “laranjas” que executam transações pequenas para evitar chamar a atenção das autoridades financeiras e das instituições bancárias. A natureza pulverizada dos esquemas de lavagem de dinheiro torna a sua detecção um processo longo e trabalhoso. Esse panorama, porém, está mudando rapidamente por conta de inovações tecnológicas que permitem que bancos tenham uma visão muito mais completa de seus clientes, histórico de transações e movimentações suspeitas.
O sucesso de qualquer atividade de lavagem de dinheiro depende fortemente do anonimato das pessoas e entidades envolvidas nas transações. Por isso, a próxima revolução na gestão de informações financeiras está na capacidade de se adquirir uma visão única do cliente, ao agregar dados oriundos de diversas fontes e entregar correlações inteligentes com um baixo número de falsos positivos. A maioria dos bancos atualmente possui uma visão ainda opaca dos clientes – as informações sobre as atividades do cliente no banco estão normalmente em sistemas separados que não se comunicam como deveriam.
Isso ocorre porque é comum que as informações dos clientes sejam alocadas em diferentes bases de dados e perfis de clientes podem aparecer de formas diferentes para diferentes sistemas – a integração inteligente de todas as fontes de dados e o cruzamento automático entre elas já é capaz de mostrar discrepâncias e comportamentos que são sinais clássicos de movimentações pouco lícitas. Por meio da compilação, tabulação e análise dos dados de diferentes fontes, os bancos já podem desenvolver uma visão abrangente do cliente e aplicar a análise preditiva para criar relações complexas e precisas mesmo com as inconsistências, erros, abreviaturas e registros incompletos que são comuns na maioria dos bancos de dados.
Identificar, cruzar e visualizar as correlações complexas são as principais atividades realizadas pelos investigadores responsáveis por combater a lavagem de dinheiro. Para eles, a boa notícia é que esse tipo de tecnologia vai eliminar a necessidade de se remontar manualmente longos rastros de transações que podem envolver múltiplos países, autoridades e instituições. Além de facilitar o trabalho de investigação, a disseminação da prática de uma visão única do cliente dentro do sistema bancário também vai tornar muito mais difícil a lavagem de dinheiro no futuro.
Se para os investigadores a notícia é boa, para as instituições financeiras, é ainda melhor: essa visão holística dos clientes não só dá aos bancos a capacidade de identificar mais rapidamente movimentações suspeitas e mitigar perdas e riscos, como também serve como ferramenta de novos negócios – ajudando a entender o perfil de cada cliente, prever seu comportamento futuro e decidir o melhor momento de vender um novo pacote de serviços ou carteira de investimento.
Já não é de hoje que as transações são realizadas nos meios digitais, mas são recentes as inovações tecnológicas que nos permitem estabelecer essa visão única do cliente de forma segura e eficiente, sem comprometer a privacidade e a segurança dos dados. A modernização do sistema financeiro, que já é avançada no Brasil, promete melhorar em muito nossa capacidade de combater fraudes e lavagem de dinheiro, beneficiando o sistema financeiro, o cliente, e a sociedade como um todo.