08/09/2016
Por Cassio Dreyfuss, vice-presidente de Pesquisas do Gartner
Muitas empresas e seus CIOS têm ainda uma ideia muito vaga de como será o futuro do ambiente de negócios digital. Muitos não avaliam o grau de transformação que será necessário. No Brasil, os líderes do negócio (o que deve incluir também os executivos de tecnologia) têm dúvidas sobre sua própria capacidade de ir em direção aos negócios digitais, devido às grandes mudanças necessárias, aos orçamentos limitados e às condições econômicas desafiadoras.
Gostemos ou não, a revolução digital está chegando às nossas praias. Já é uma realidade. E, na nossa visão, transformará radicalmente a maneira como se fazem negócios em todas as indústrias – incluindo governo. Elementos importantes ainda não estão totalmente claros: os diferentes cenários nos diversos setores, os novos desafios e as novas regras. Mas é justamente aí que estão as oportunidades.
CIOs brasileiros podem – e precisam – desenvolver a visão dos negócios digitais de suas respectivas empresas e seguir adiante, assumindo papel de liderança na nova economia digital. As novas possibilidades criadas pelos negócios digitais redefinem os mercados e as regras de concorrência. A contagem volta a zero. A competição começa de novo. Todo mundo tem uma nova chance.
Os novos líderes de tecnologia têm grandes desafios pela frente. As possibilidades para criação de negócios realmente inovadores são virtualmente inexploradas na maioria das indústrias, especialmente em países emergentes. E a flexibilidade das tecnologias digitais permite a criação de modelos totalmente novos. Eles são, em geral, intensivos em informação – mas não exigem investimentos pesados em ativos (uma condição praticamente obrigatória para viabilizá-los no Brasil de 2016-2017). E, na maioria dos casos, a criatividade é a única limitação, pois ainda não há enquadramentos legais ou marcos regulatórios para restringi-los. Além disso, a revolução digital é recente e ainda não há vencedores claros nem posições de liderança consolidadas. O momento é agora. Neste mundo global, os competidores estrangeiros não vão esperar a plena recuperação do nosso país para avançar nesse novo jogo digital.
Nossos CIOs devem trabalhar com a alta administração e os líderes de negócios para criar o novo modelo de negócios digitais de suas empresas. Precisam promover o desenvolvimento de novas redes de liderança, fora da TI, envolvendo talentos internos e externos à empresa. E doutrinar os líderes de negócios nos novos modelos digitais, que alavancam criatividade e inovação aplicadas sobre ativos de informação intangíveis, sem a necessidade de altos investimentos em ativos físicos. Necessitam também redirecionar a busca de talentos – problema complicado no Brasil – sob uma visão de uma rede dinâmica híbrida, usando oportunamente recursos internos e externos.
Modelos econômicos agrícolas e industriais focam em bens tangíveis, como ferramentas, equipamentos, insumos e matéria-prima. Já os modelos econômicos de serviço enfatizam a importância de ofertas intangíveis, onde o diferencial competitivo fica por conta de características que são adicionadas aos serviços — de certa forma, já um modelo “desmaterializado”. Agora estamos começando uma nova era econômica — o negócio digital – que leva a desmaterialização em um nível nunca pensado até agora.
Uma parte importante da vantagem competitiva das empresas no passado foi seu acesso privilegiado a recursos materiais, ou custos baixos em seu processo de transformação física, da matéria prima às mercadorias acabadas. Nesta nova era, os componentes intangíveis têm precedência sobre os materiais. O negócio digital é alimentado pela inteligência e criatividade em explorar ativos de informação, mais do que ativos físicos.
A consequência é que as barreiras de concorrência que foram construídas no passado em torno do acesso aos recursos perderam sua importância ou desapareceram por completo, e as empresas devem começar a construir suas novas posições competitivas baseadas no acesso e proteção de seus ativos intangíveis. Por exemplo, a Prudential Insurance criou uma oferta chamada Vitality (“o programa de recompensa de vida saudável”), baseado nos registros coletados dos sensores de monitoramento de atividades físicas (braçadeiras, tênis, peças de roupa etc.).
O sistema completo é somente um modelo de negócio intangível desenvolvido com investimentos acessíveis. Não é difícil para outros operadores criarem uma oferta similar. Então, parte da barreira de proteção está em trazer parceiros chave estratégicos para participar desta oferta.
Empresas de países como o nosso, com problemas econômicos – agudos ou endêmicos – e dificuldades financeiras, não precisam direcionar altos investimentos para a nova economia digital. Em vez disso, agora podem competir alavancando bens intangíveis e talento das pessoas (inteligência e criatividade turbinando habilidades pessoais), que são pagos em cômodas parcelas mensais.
Com as novas regras, todas as empresas – mesmo aquelas com emprego intenso de ativos – têm uma nova oportunidade pela frente que não podem desperdiçar, mesmo diante do atual cenário econômico brasileiro. Isso precisa ser feito, e agora.