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ABES 30 anos: Portal entrevista o executivo Gérson Schmitt

31/05/2016


O Brasil pode deixar de ser um país de commodities, acredita o dirigente
 
“O setor de TI é uma alavanca diferenciadora, de maneira horizontal, que beneficia toda a economia”. Essa é a avaliação de Gérson Schmitt, vice-presidente do Conselho da ABES e presidente do Conselho de Administração da Paradigma Business Solutions. O Portal da ABES entrevistou o executivo para a série de matérias comemorativas dos 30 anos de existência da associação, comemorado em 2016. Schmitt falou sobre o processo de renovação do papel da ABES iniciado durante sua gestão. Confira quais foram as mudanças efetuadas e uma detalhada análise do setor brasileiro de software e serviços:   
 
Na sua gestão (2010 -2012) como presidente, a entidade passou por um processo de renovação. Você poderia comentar como se deu esse processo?
A ABES tinha um trabalho consolidado e reconhecido no setor brasileiro, principalmente no combate à pirataria e, neste período, decidimos promover um reposicionamento da associação com a abertura de novas frentes de trabalho, visando o desenvolvimento do setor, o fomento e a inovação. Renovamos o nosso portal, promovemos a reforma da sede, a atualização da identidade visual, implementamos a diretoria de inovação, estabelecemos as parcerias com entidades regionais, entre outras atividades. Nesta gestão mantivemos os serviços da entidade, renovamos os mecanismos de aproximação da associação com vários segmentos, tanto que crescemos bastante em número de associados. Ou seja, alcançamos uma renovação do papel e da atuação da ABES.  
 
Neste período também foi lançado o Programa Startup Brasil, pelo Governo Federal, entretanto, desde 2014 que não são lançadas novas turmas. Como você avalia o ecossistema brasileiro de incubadoras, aceleradoras e startups?
Este ecossistema tem sido fundamental, pois tem substituído boa parte da ação governamental, que deveria estar fomentando esse tipo de projeto. Quem acaba fazendo são empresários e investidores. Acredito que nosso ecossistema poderia ser maior. Nós temos projetos muito bem-sucedidos e vou dar o exemplo da minha cidade, Florianópolis (SC), uma ilha que tem uma associação que reúne cerca de 600 empresas de TI, na qual metade é representada por startups e incubadas. Estes programas realmente trazem desenvolvimento e inovação, por isso poderiam ter muito mais apoio público e fomento. O Brasil só vai ter produtividade quando ele tiver tecnologia e inovação para se tornar melhor do que os demais países em desenvolvimento e se aproximar dos desenvolvidos.     
 
No Brasil, existe uma grande representatividade das empresas de serviços no mercado de software. Quais seriam, em sua opinião, os caminhos para ampliação do desenvolvimento do software nacional?
Alavancaremos o desenvolvimento do software nacional à medida que tivermos um tratamento tributário diferenciado para as empresas que atuam na venda de serviços e para as que atuam com comercialização de aplicativos, de software, sejam entregues na forma física ou como SaaS. No Brasil, atualmente, grandes empresas fazem a contratação do software sob encomenda, mas este trabalho não tem resultado de longo prazo, não tem replicação. Poderíamos também ter uma possibilidade, por exemplo, de tratamento tributário diferente para quem compra software nacional em comparação com quem compra serviço, a fim de estimular o setor.   A replicação é a base de todas as grandes empresas internacionais, como Oracle, Microsoft e Google. Todas elas têm softwares que podem ser comercializados em escala. É muito mais vantajoso para a economia apostar em software.       
 
Quais as suas dicas de gestão aos novos empreendedores que estão estruturando startups de tecnologia e software?
Não existe nenhum negócio que não se baseie no tripé da administração: a combinação de uma boa estratégia, uma liderança visionária que perceba as necessidades de mercado, e uma organização capaz de colocar o negócio em pé, porque não tem uma boa ideia que sobreviva a uma má gestão. Os fundamentos da administração precisam estar presentes nas empresas nascentes para que sejam bem-sucedidas.  
 
Quais os principais desafios que os empresários do setor deverão superar nos próximos anos?
O principal desafio é o de recuperação da economia como um todo, porque afeta a todos. Esse é um desafio coletivo e não só das empresas de TI. Apesar disso, o nosso setor continua crescendo, mesmo que seja com índices menores do que no passado. Outros grandes desafios ainda são a qualificação e a quantidade de profissionais, tanto pela qualidade da educação que é ruim, como pela falta de mão-de-obra. O modelo do setor de TI focado em serviços necessita de mais gente. Se o Brasil caminhar para o modelo de software replicado, melhor será o aproveitamento dos profissionais existentes. A influência do modelo do setor nestas questões é muito grande.
Um terceiro aspecto é a exportação, pois a que tem mais importância econômica, a que oferece valor percebido é a de software. Em exportação de serviços, o Brasil vai competir com players como a Índia, onde se cobra menos de US$ 20 a hora. Competir num mercado de commodities não é muito inteligente. O software replicável, que pode ser exportado, contribui ainda para a melhoria da balança comercial, que é deficitária há décadas. Somos o sétimo maior mercado do mundo de software e serviços de TI, mas nós não somos a sétima indústria de software. A área pública não tem contribuído com o desenvolvimento do software nacional, como acontece em outros países, por causa da preferência pelo autodesenvolvimento de programas ou pelo software livre.
 
Como avalia o papel do setor de TI na economia brasileira?
O setor de TI é uma alavanca diferenciadora, de maneira horizontal, que beneficia toda a economia. Uma vez que tenha uma política acertada de incentivo para o desenvolvimento de software e de tecnologias inovadoras, sejam embarcadas ou replicadas, o Brasil poderá sair da posição de refém, de um país de commodities, para um país competitivo internacionalmente em áreas de tecnologia de ponta ou de setores nos quais a tecnologia faz diferença. Então, é muito importante apoiar o crescimento do setor de TI e a ABES tem esse argumento em sua pauta como um dos principais para as mudanças das políticas brasileiras nessa área.