17/05/2018
Werter Padilha (ABES), Tiago Barros (CESAR), Alexandre Zanon (Anatel) e
Rodrigo Santana dos Santos (Anatel)
Para compartilhar um pouco da experiência e do conhecimento da sua participação no evento da UIT no Cairo (Egito), Werter Padilha, coordenador do Comitê de IoT da ABES, entrevistou João Alexandre Zanon, que é coordenador de regulamentação da Anatel e trabalha também na secretária executiva da CBC3 (Comissão Brasileira de Comunicações – Normatização de Telecomunicações).
A convite do MCTIC, Padilha teve a satisfação de participar junto com Zanon da delegação brasileira na reunião da Comissão de Estudos sobre IoT and Smart Cities, promovida entre os dias 6 e 16 de maio de 2018 pela UIT - Union International of Telecommunications, a agência especializada das Nações Unidas para as tecnologias de informação e comunicação (TICs).
Confira a entrevista exclusiva no Portal da ABES:
Por que o Brasil participa da UIT?
A UIT é um organismo no qual o Brasil e a Anatel sempre fizeram questão de participar, pois diferente dos outros organismos de normalização, que em gera; conta apenas com a participação de membros da indústrias, este também conta com a participação direta dos países e, assim, encontramos aqui representantes dos governos como a China, dos Estados Unidos, do Canadá, da Coreia do Sul e países africanos, dentre outros. Então, é aqui neste fórum que os países expressam as suas vontades e necessidades em termos de padronização e as discussões são realizadas com muito envolvimento de seus membros, que apresentam seus argumentos técnicos objetivando influenciar as recomendações e padronizações. Por isso, é chave para o Brasil estar com sua delegação neste espaço muito qualificado de decisões.
Como o Brasil se beneficia desta participação?
Aqui, nós acompanhamos como os demais estados-membros apresentam as suas necessidades em termos de políticas regulatórias e planejamento estratégico. Isto é importante para sabermos o que está sendo definido nos outros países, identificamos se o Brasil está coerente, no que a gente pode agregar e também internalizarmos algumas destas tendências, para mostrarmos aos empresários, institutos de pesquisa e órgãos reguladores no Brasil, sempre considerando a realidade brasileira, que apresenta em um mesmo país característica de países desenvolvidos e em desenvolvimento, devido à sua dimensão geográfica. Sabemos que nosso país tem regiões muito adiantadas tecnologicamente e outras nas quais estamos investindo ainda para a inclusão digital. Assim, além de compartilhar as necessidades brasileiras, podemos conhecer as necessidades de outros lugares e levar estas demandas para que a indústria brasileira possa, inclusive, desenvolver soluções e exportar produtos e serviços futuramente.
Qual o papel da UIT neste processo acelerado de desenvolvimento tecnológico que vivemos?
A UIT tem um papel muito importante na padronização dos assuntos relativos ao uso das ondas de rádio e telecomunicações no mundo. É o único órgão internacional capaz de fazer isso, de definir as frequências que serão usadas para as diversas tecnologias, como satélites, comunicações terrestres (como o telefone celular) e outras aplicações mais específicas (como carros autônomos). Existe um debate muito grande, pois neste nível de discussão são vários interesses em jogo. A UIT também tem uma função relevante nas discussões regulatórias, ao definir os padrões que a indústria vai deve seguir, pois, devido ao peso da instituição, é comum os governos considerarem em seus normativos e licitações os padrões definidos nas recomendações da UIT. O Brasil é um país que reconhece esse papel e muitos dos regulamentos da Anatel são baseados nos padrões e recomendações da UIT, o que tende a facilitar, por exemplo, o atendimento das regulamentações para as exportações de produtos e serviços e o desenvolvimento do mercado brasileiro de tecnologia. A UIT trabalha muito em parceria com diversos organismos de padronização, como a ISO, IEC, ETSI, o que dá ainda muito mais peso as recomendações.
Como as discussões sobre IoT chegaram na UIT?
O Grupo de Estudos de IoT e Smart Cities (SG20) é recente aqui na UIT e foi criado a partir das questões trazidas pelos países asiáticos, africanos e europeus, principalmente, que são bastante ativos neste fórum devido a suas estratégias nacionais. É comum, por exemplo, chineses e coreanos proporem padrões na UIT com base em tecnologias que internamente já foram desenvolvidas por sua indústria, o que gera uma grande vantagem competitiva para eles com a conversão destas tecnologias em padrões internacionais. O Brasil pode aprender muito com esta estratégia, especialmente agora, considerando que o ecossistema de IoT é um negócio novo, que está em amplo crescimento. Então, esta área tem muito espaço para inovação. E o ecossistema de IoT tem uma vantagem adicional: neste segmento, as startups e as empresas pequenas ou médias têm oportunidade de criar produtos e serviços relevantes, inovações que antigamente ficavam concentradas nas grandes indústrias globais. O Brasil pode e deve melhorar as parcerias entre os entes de governo e os desenvolvedores de tecnologia, a fim de trazer as inovações tecnológicas estratégicas aqui para a UIT. É importante mostrar para o mundo que o Brasil tem capacidade técnica de produzir tecnologia e, com isso, valorizar o seu capital intelectual.
Onde o Brasil tem se destacado aqui na UIT?
O Brasil tem se destacado em diferentes grupos, como os que discutem a atuação das OTTS (Over-The-Top Services), as práticas de redução das tarifas de roaming, o combate aos dispositivos roubados e falsificados e os modelos de aferição de qualidade de banda larga. Temos trazido a expertise brasileira, nos posicionando como referência nestes assuntos, contribuído fortemente para a definição dos padrões internacionais e, consequentemente, criado oportunidades de negócios para empresas brasileiras. Agora, com o advento das discussões da Câmara de IoT, buscamos replicar este modelo também na comissão de estudos 20 (IoT & Smart cities), mas para isso precisamos trabalhar em conjunto, governo e indústria, para demonstrar o nosso potencial e ganhar o respeito dos demais países do mundo.